PAINEL CULTURA - Resenha Crítica: Ricardo e Vânia - Kaique Lorente
- kaiquelorentejorna
- 4 de nov. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de abr. de 2021

O livro "Ricardo e Vânia", de Chico Felitti, foi publicado no ano de 2019, pela editora Todavia. Ele expande uma reportagem feita pelo mesmo autor, onde conta toda a trajetória do icônico casal formado por Vânia e Ricardo Correa da Silva, também conhecido pelo apelido de "Fofão da Augusta" - nome que veio, de forma ofensiva, por causa de deformações em seu rosto decorrentes de aplicações de silicone.
A reportagem publicada no ano de 2017, pelo site do BuzzFeed, e intitulada "Fofão da Augusta? Quem me chama assim não me conhece", aconteceu no mesmo ano em que se deu a morte de Ricardo. No final do mesmo dia da publicação, um milhão de pessoas já haviam lido parte de sua história, e o "Fofão" passou então, finalmente, a ter um nome.
Esse livro-reportagem, um dos mais emblemáticos em caráter LGBT, traz, através do autor, uma busca em humanizar esses personagens que, por grande parte da população, eram tratados apenas como "memes", e que acabaram se tornando lendas urbanas. Por isso, o livro contém relatos e informações que trazem à tona a realidade por trás de "personagens" como esses, que viralizam de forma ridicularizada.
Em relação a sua estrutura, o livro é contado em primeira pessoa, sendo o narrador o próprio autor. Mas isso não se dá da forma que costumamos ver: a história de ambos os personagens não é contada de forma cronológica dos acontecimentos, mas sim a medida em que o narrador descobria cada acontecimento. O autor, como participante ativo da história, foi cada vez mais se envolvendo com Ricardo e Vânia.
A primeira parte do livro se inicia a partir do momento em que Ricardo foi hospitalizado sem documentos, no ano de 2017. De início, não se sabia a história, e nem o próprio nome do entregador de folhetos.
A segunda mostra toda a repercussão que a reportagem, publicada nesse mesmo ano, fez eclodir na vida do Ricardo. Sua história trouxe enorme comoção nas redes sociais. O próprio autor fala que "Ricardo foi abraçado pela cidade de São Paulo". A partir daí, ele passou a ser tratado, pela primeira vez, da forma como ele mesmo já se via: um artista.
A terceira parte traz outro personagem central para o entendimento de sua história, e que trouxe nome ao livro: Vânia. Vânia é uma mulher, nascida no corpo de um homem, que foi o amor da vida de Ricardo. Ela entra de fato na história após a morte de Ricardo, e contribui essencialmente nas informações trazidas pelo autor, inclusive com fotos de ambos, trazidas já no final do livro.
Vânia e Ricardo viveram juntos entre os anos de 1980 e 1989, em uma quitinete, em São Paulo. Foi a partir daí que os dois começaram a aplicar o silicone em seus rostos. Segundo Ricardo, isso faria com que parecessem bonecas de porcelana chinesas.
Mas parece que esse amor vinha muito mais por parte de Ricardo, o que fez com que Vânia "fugisse" para Paris, onde mora até os dias de hoje. Lá, entrou no mundo da prostituição, onde já se utilizou de diversos heterônimos.
Apesar de pessoas comuns, ambos os personagens tem histórias que beiram o fantástico, algo que se imaginaria como uma verdadeira história de filme. Isso deixa ainda mais evidente o papel do jornalista dentro do meio social. Através dessas informações, torna-se muito mais simples o entendimento para com o próximo, e a forma como devemos nos relacionar. O livro traz uma bagagem excepcional, que deveria não só ser apresentada dentro do âmbito jornalístico, mas sim para toda uma sociedade.
Como cada pessoa é um mundo, é necessário a busca da informação, do entendimento, assim como é mostrado pelo autor. Por isso, busque conhecer a história por trás de cada pessoa. Há um motivo para serem do jeito que são.
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